EMDR
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O que é o EMDR?
O EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) é uma abordagem psicoterapêutica inovadora, desenvolvida pela psicóloga Francine Shapiro no final dos anos 1980.
Inicialmente concebida para o tratamento do Transtorno de Stress Pós-Traumático (TEPT), a terapia EMDR demonstrou grande eficácia no tratamento de uma ampla gama de problemas emocionais, incluindo fobias, ansiedade, depressão, dor crónica e traumas não resolvidos (Shapiro, 2014).
A base do EMDR é a ideia de que as dificuldades emocionais resultam de experiências traumáticas mal processadas pelo cérebro. Quando uma pessoa passa por um evento traumático, as memórias associadas a esse evento podem não ser adequadamente integradas, resultando em reações emocionais e físicas intensas.
O EMDR facilita o processamento dessas memórias de forma mais adaptativa, utilizando a estimulação bilateral (geralmente através de movimentos oculares) para permitir que o cérebro reprocessar as informações de uma forma mais equilibrada e saudável.
Em 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o EMDR como um tratamento de primeira linha (nível "A") para o TEPT, ao lado da terapia cognitivo-comportamental (World Health Organization, 2013).

Público-Alvo do EMDR
O EMDR é eficaz para uma variedade de condições clínicas, tais como:
- Perturbação de Stress Pós-Traumático (TEPT): Uma das indicações mais estabelecidas do EMDR, com elevada taxa de sucesso em traumas de abuso, violência, acidentes, entre outros (Lee & Cuijpers, 2013).
- Perturbações de Ansiedade e Fobias: Incluindo fobias específicas, transtorno de ansiedade generalizada e ataques de pânico.
- Depressão: Especialmente eficaz quando há uma componente traumática ou experiências adversas precoces não resolvidas.
- Crenças Negativas e Autoestima: Atua sobre cognições disfuncionais como "não sou suficiente" ou "não sou digno", promovendo uma autoimagem mais positiva.
- Dor Crónica: O EMDR pode reduzir dores físicas com componente emocional ou psicossomática, reprocessando experiências ligadas ao sofrimento corporal (Feske & Goldstein, 2017).

Como Funciona o EMDR?
A terapia EMDR é composta por oito fases estruturadas, baseadas no protocolo clínico desenvolvido por Francine Shapiro:
- História Clínica e Planeamento do Tratamento (History Taking and Treatment Planning)
- Preparação (Preparation)
- Avaliação (Assessment)
- Dessensibilização (Desensitization)
- Instalação (Installation)
- Verificação Corporal (Body Scan)
- Encerramento (Closure)
- Reavaliação (Re-evaluation)
O EMDR envolve a estimulação bilateral, realizada através de movimentos oculares, sons alternados ou toques. Esta estimulação permite ao cérebro aceder a memórias perturbadoras, processá-las e integrá-las de forma mais adaptativa, reduzindo a carga emocional e física associada.
Durante as sessões, o terapeuta guia o paciente na evocação da memória traumática, enquanto acompanha as reações emocionais, cognitivas e somáticas, promovendo uma reestruturação interna profunda.

A Ligação Corpo-Mente, Cognição e o EMDR
O EMDR reconhece que o sofrimento emocional afeta não apenas os pensamentos e emoções, mas também se manifesta fisicamente no corpo. Muitas experiências traumáticas são armazenadas de forma implícita no sistema nervoso, provocando sintomas como dores crónicas, tensão muscular, perturbações digestivas ou dificuldade em respirar (Van der Kolk, 2014).
Durante a terapia EMDR, o paciente é convidado a aceder simultaneamente a:
- Imagens mentais (memória)
- Cognições negativas (ex: "não sou suficiente")
- Emoções associadas
- Sensações físicas
Este trabalho simultâneo permite integrar redes de memória perturbadoras com redes de memória adaptativas, promovendo uma transformação holística.
Cognições Negativas e Reestruturação Cognitiva
Cada memória perturbadora está associada a uma cognição negativa (como "estou em perigo" ou "sou impotente"). O EMDR atua diretamente sobre estas crenças, promovendo a instalação de cognições positivas adaptativas, como "estou seguro agora" ou "tenho controlo", o que reconfigura o sistema de crenças da pessoa.
A Teoria Polivagal e a Regulação Autonómica
A Teoria Polivagal, de Stephen Porges, fornece uma base neurofisiológica para compreender a resposta do corpo ao trauma. O nervo vago é responsável pela regulação do estado fisiológico (segurança, alerta ou colapso). Situações traumáticas podem manter o sistema nervoso em estado de hiperativação (luta/fuga) ou hipoativação (congelamento), comprometendo a clareza cognitiva e a saúde emocional.
O EMDR parece estimular vias vagais seguras, favorecendo a auto-regulação, o relaxamento e o estado de conexão social. Isto facilita o reprocessamento de memórias sem retraumatização.
Modelo AIP (Adaptive Information Processing)
Segundo este modelo, que fundamenta o EMDR, as memórias traumáticas não processadas ficam armazenadas em redes neuronais isoladas, ligadas a emoções, sensações e crenças negativas. O EMDR ajuda a "ligar" essas redes a outras mais saudáveis, permitindo a integração funcional e emocional da experiência.
Neurociência e Integração Hemisférica
Estudos com neuroimagem indicam que o trauma afeta a atividade de áreas como a amígdala (emocional), o hipocampo (memória) e o córtex pré-frontal (racional). A estimulação bilateral do EMDR parece promover integração entre os hemisférios cerebrais, reduzindo a hiperactividade da amígdala e favorecendo a regulação emocional e cognitiva.

Resultados do EMDR
Estudos demonstram que o EMDR é eficaz não apenas no tratamento de TEPT, mas também de outras condições emocionais e somáticas:
- Redução de sintomas de trauma e ansiedade
- Melhoria na autoimagem e autoestima
- Alívio de dor crónica com componente emocional
- Integração cognitiva e emocional de experiências adversas
Uma meta-análise de Lee e Cuijpers (2013) mostra que o EMDR é tão ou mais eficaz do que outras formas de terapia no tratamento do TEPT. Estudos mais recentes reforçam a eficácia do EMDR em condições como dor crónica, ansiedade, fobias e depressão, com resultados rápidos e duradouros (Feske & Goldstein, 2017).
Conclusão
O EMDR é uma terapia avançada, baseada em evidência científica e com aplicação em múltiplas áreas da psicologia clínica. Atua de forma integrada sobre mente, corpo e emoções, promovendo a cura profunda de memórias traumáticas, crenças negativas e sintomas psicossomáticos.
Se está à procura de uma abordagem terapêutica eficaz, segura e transformadora, o EMDR pode ser a chave para restaurar o equilíbrio emocional e físico.
Agende a sua consulta e descubra como o EMDR pode ajudá-lo a superar traumas, dores emocionais e físicas, e a viver com mais liberdade e bem-estar.
Referências Bibliográficas
- American Psychological Association. (2017). Clinical practice guideline for the treatment of posttraumatic stress disorder (PTSD) in adults. https://www.apa.org/ptsd-guideline
- Feske, U., & Goldstein, A. M. (2017). EMDR for chronic pain and trauma. Journal of Clinical Psychology, 73(5), 642–652. https://doi.org/10.1002/jclp.22358
- Lee, C. W., & Cuijpers, P. (2013). A meta-analysis of EMDR for treating posttraumatic stress disorder. Journal of Anxiety Disorders, 27(2), 146–157. https://doi.org/10.1016/j.janxdis.2012.11.003
- Porges, S. W. (2011). The polyvagal theory: Neurophysiological foundations of emotions, attachment, communication, and self-regulation. Norton.
- Shapiro, F. (2014). EMDR: The breakthrough therapy for overcoming anxiety, stress, and trauma. Basic Books.
- Van der Kolk, B. A. (2014). The body keeps the score: Brain, mind, and body in the healing of trauma. Viking.
- World Health Organization. (2013). *Guidelines for the management of conditions specifically related to stress*. [https://www.who.int/publications/i/item/9789241505406](https://www.who.int/publications/i/item/9789241505406)